segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Medicina da Floresta

No início do ano tive uma experiência intensa com os índios Yawanawá (Acre), numa aldeia aqui em PE. Foi uma experiência diferente de qualquer coisa que eu já vivi, com muita conexão da natureza e dos saberes ancestrais. No começo da cerimônia, eu estava muito travada, insegura e ficava atenta a cada detalhe, não conseguia estabelecer nenhuma conexão com o que estava acontecendo. Relendo meus escritos desse dia, eu lembro ter relatado uma questão que chegou muito forte na minha auto-reflexão, era que eu não conseguia me permitir ~não~ ter o controle das coisas. Fiquei refletindo por muito tempo sobre isso e como, de fato, foi algo que me paralisou naquele instante inicial (e na vida.)…  Um tempo depois, tentei silenciar meus pensamentos repetitivos e deixar fluir, me permitir a leveza. Foi um dia bem longo, e a partir dessa permissão, tive um longo encontro comigo mesma, pedi perdão, me perdoei, chorei muito, me assustei, depois ri, cantei, dancei, agradeci… E nunca imaginei o que estava por vir logo em seguida, uma pandemia! Que chegou para chacoalhar com força nossa sanidade, nossas certezas e nossa forma de ver a vida. Esse ano que passou, ainda que indigesto, entre surtos e agradecimentos, nos mostra e reafirma que não temos o controle de absolutamente nada. E todas as vezes que surtei em 2020, pude perceber que  tudo estava sempre relacionado a algo que eu simplesmente não tinha o controle sobre, e que eu preciso saber lidar melhor com isso. Não é fácil desconstruir esse traço de personalidade, mas ter esse entendimento e tentar diariamente, se tornou um exercício pra mim. Então, no último dia de um ano tão atípico, eu preciso saber agradecer, reconhecer, ser menos rígida comigo mesma, valorizar aquelas pessoas que estavam sempre ao nosso lado apesar de toda a distância e aceitar a movimentação natural da vida… Que a gente possa tirar aprendizado de qualquer vivência transformadora que aconteceu em nosso entorno, tenho certeza que cada um tem algo pra acrescentar. No mais, que a gente tenha dias de paz e cura. 


sábado, 9 de maio de 2020

Reconectar

Andei meio distante porque esses dias estão me fazendo revirar avessos internos, incansáveis reflexões. Não é fácil encarar de frente nossos privilégios, sentindo uma culpa paralisadora de ser um grão diante de tudo e não poder fazer “nada”. A impotência de não conseguir mudar a realidade, de não ser ouvida quando meu grito interno berra em desespero contra a corrente do egoísmo… O ‘não saber’ tira todo controle que um dia pensamos ter, soa assustador e só reforça que isso não nos pertence, não cabe a nós. Decidi vir para o “mato” enquanto pudesse aqui estar, dentro das minhas possibilidades privilegiadas. Porque essa conexão com a natureza faz parte do meu ser, onde me sinto renovada e revigorada. Essa Pandemia me mostra como a TERRA estava precisando de um tempo para respirar e se recuperar. Ver Capivaras voltando a habitar o Rio Capibaribe, buracos enormes na camada de ozônio desaparecendo, um cardume imenso de peixes na praia do Pina, um céu sem poluição na China e em tantos outros lugares, os canais de Veneza com águas transparentes e cheia de peixes me faz pensar o quanto o Coronavírus é nosso parasita e nós somos os parasitas da Terra. Espero que essa pausa traga, de alguma forma, um novo recomeço, uma RECONEXÃO com aquilo que temos de mais sagrado: a natureza, o amor e a vida. Aqui, enfim, eu respiro com um pouco de paz, semeando a paciência de que tudo vai passar. 



quinta-feira, 3 de outubro de 2019

An escape.

Oh Hope, where have you gone?
And will you ever come back to me completely?
All the holes that I bled from
Forcing everyone around my heart to leave me...

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Tons.

"Olhar perdido à igreja. Outro, à esquina. Entre passantes e alegria, dois olhares em calmaria. Música em sílabas nunca ditas, mistério ébrio nos calcanhares de nossos Aquiles. 
Cores bailarinas na rua.
Um sentimento acentuado pelo tempo e universo.
Ondas penetrando o mais profundo íntimo. Dor em tons alaranjados simultâneo.
Inverborrável suor de muitos outros que desarrumaram lençóis esbranquiçados entre as pontas dos dedos dos pés, das pernas entrelaçadas e fronhas apertadas.
Amores.
Por noites mais quentes, repletas de notas exalando fogo nos corpos e espelhos. Refletir, em amor, tudo com cores intensas, com paixões violentas.
Tornado em céu sem esperança de sons violeta. Flor de pétala beijada.
Aroma do desconhecido sussurro.
Dentes em lábios vermelhos salivantes,  pupilas de desejos extenuantes, pêlos e semblante delirante.
Dança entre as coxas rodeadas de vinho que toma, por desobediência sábia, o caminho contrário ao natural repousando em sóbria saliência.
Melodias carnais envoltas em atmosfera de prazer condensado em energia vital que se dilata.
Fluidos da criação cósmica do ser.
Magia do instante.

Brilho de almas."

- gift.

Somar

"Em absoluto silêncio canto pra minha alma. 
No meu peito explodem símbolos e tons.
Sugiro à minha mente que são coincidências; apenas momentos da vida em que queremos fazer parte do outro.
Fecho os olhos e vago por um universo completamente desconhecido, mas que ressoa como o meu. São cores.
Frio está o vórtice da esperança. Essa imensidão em que me permito aventurar tem o cheiro de entardecer no sertão. Seco, como o vento cortante, e implorando por água.
O som do mar, lá, ao fundo, é mudo.
No tom do ar há infindo sussurro.
Correnteza levando o passado pra outro presente. Vertigem dos calabouços marinhos, espiral de sons fluidos; armadilhas a que me entrego.
No instante preciso em que o tom de seus olhos notarem os agitados castanhos meus, não me diga nem um adeus. Então saberei que diante do caos existirá um porto mais agitado que meu barco poderá se destroçar.

Cantaria, eu, tons de sol e fá.
Seria de novo eu.
Seria, se quiseres, seu.

Como o som pro mar."

- gift.

Salgues

"Na carne do homem está exposta sua alma. Não sabendo o que fazer com seu amor, o capitão gira o timão que não existe. Marinheiro de primeira e única viagem, permite que o tempo o carregue ao além-mar. Boa viagem! Boa viagem. Todo oceano banhará suas costas. "Salgues minha vida tão sem gosto e deixe que as oliveiras ofereçam seus odores às tentações da terra. Os campos que passares correndo e deixares teus aromas eu percorrerei também se me permitires. Treparei em todas as árvores que avistar e criarei raiz junto à tua para que nossos galhos se unam formando uma nova raiz maior até o infinito." Possível seria se possível fosse. E é! Apenas parece ilógico que um navio afundado venha à tona. A impressão que a vida dá é que nada é totalmente impensado. Os gestos e as palavras são lembranças que nos transmitem sensações de felicidade inexplicável."

- gift.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Pássaro que sou.

Pássaro que sou.

Me chamam de beija-flor
Pelo jeito que bate meu coração.
É que aqui dentro eu soo amor
Sou quase mesmo que explosão.
Dias que sim, dias que não
Hora sossego, hora turbilhão.
Almejo apenas num suspiro
Alguém pra alçar vôo comigo 
Sem temer esse perigo
Fazer de mim teu abrigo?
Prometo te dar meu afago
E o melhor que puder ser
Se tu comigo estiveres
Iremos juntos florescer!
Um dia então seremos capaz
Pássaro que sou e pássaro serás
De voarmos livremente 
Seguindo a curva que o vento faz.